domingo, 10 de fevereiro de 2013

Um Pouco de Poesia - Cassiano Ricardo

  Cassiano Ricardo Leite nasceu em São José dos Campos em 1895 e faleceu no Rio de Janeiro em 1974. Talvez seja um dos escritores modernistas menos conhecidos atualmente pelos leitores em geral, mas não há como negar o peso de sua obra para a literatura nacional. Como grande parte dos autores do período, em sua juventude Cassiano iniciou sua carreira de poeta nas bases do Parnasianismo e do Simbolismo, mas não demorou a ser envolver com o Modernismo, participando dos grupos Verde-amarelo e Anta, ambos de cunho nacionalista e integralista, porém desligou-se desses grupos por não possuir as mesmas ideias políticas. De poética lírica e sentimental, nunca esqueceu os anseios intimistas. Passou por diversas fases chegando por último ao Concretismo do qual também teve algumas desavenças. Entre os seus principais livros estão "Martim-Cererê", "Borrões de Verde e Amarelo", "Marcha para Oeste" e "Vamos Caçar Papagaios".
  Fez parte das Academias Paulista e Brasileira de Letras.
 Em sua cidade natal, São José dos Campos, Cassiano Ricardo dá nome para uma fundação cultural que se dedica a divulgar as mais diversas formas de arte, além disso é o maior ícone de arte da cidade.
  Confira duas poesias de Cassiano Ricardo:

A Flauta que me Roubaram

Era em S. José dos Campos
E quando caía a ponte
eu passava o Paraíba
numa vagarosa balsa
Como se dançasse valsa.
O horizonte estava perto.
A manhã não era falsa
como a da cidade grande.
Tudo era um caminho aberto.
Era em S, José dos Campos
no tempo em que não havia
comunismo nem fascismo
pra nos tirarem o sono.
Só havia pirilampos 
imitando o céu nos campos.
Tudo parecia certo.
O horizonte estava perto.

Havia erros nos votos
mas a soma estava certa.
Deus escrevia direito
por pequenas ruas tortas.
A mesa era sempre lauta.
Misto de sabiá e humano
o meu vizinho acordava 
tranquilo, tocando flauta.
Era em S, José dos Campos.
O horizonte estava perto.
Tudo parecia certo
admiravelmente certo.

Imemorial

Não fui que sou, quando nasci.

Nem sou quem sou, quando amo.
Nem quando sofro.
Porque coexisto. Porque a angústia
é uma herança.

Só me aproximo de mim mesmo
quando fujo,
atravesso a fronteira,
ou me defendo, ou fico triste.

Ou quando sinto a rosa
 secreta e quente da vergonha
subir-me à face.

O mar me bate à porta, 
como um grito da origem,
mas como descobrir
a onda imemorial que me trouxe?



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