Quando comecei a escrever neste blog uma de minhas intenções era divulgar a literatura em suas várias formas, mas de certa maneira já tinha em mente de dar um certo destaque a literatura brasileira, uma das minhas preferidas, porém tão esquecida e pouco valorizada atualmente pelos seus conterrâneos. Em uma das minhas primeiras postagens coloquei algumas poesias de Carlos Drummond de Andrade, um dos poetas brasileiros mais talentosos e do qual gosto muito. Agora seguindo o plano de divulgar a literatura brasileira, esta na vez de Augusto dos Anjos, poeta extraordinário e cujo dom de poetar não fora reconhecida em vida, mas como muitos outros escritores foi apenas reconhecido em morte. Tendo um estilo único, é considerado um poeta pré-mordenista, porém com fortes influências simbolistas. Dono de personalidade excêntrica e muitas vezes doente, até hoje é conhecido como "O Poeta do Pessimismo", suas poesias chocaram a sociedade de sua época. Confira abaixo "Versos Íntimos", a sua poesia mais conhecida e "Idealismo", a minha favorita.
Versos Íntimos
Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!
Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.
Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.
Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!
Idealismo
Falas de amor, e eu ouço tudo e calo!
O amor na Humanidade é uma mentira.
É. E é por isto que na minha lira
De amores fúteis poucas vezes falo.
O amor! Quando virei por fim a amá-lo?!
Quando, se o amor que a Humanidade inspira
É o amor do sibarita e da hetaíra,
De Messalina e de Sardanapalo?
Pois é mister que, para o amor sagrado,
O mundo fique imaterializado
- Alavanca desviada do seu fulcro -
E haja só amizade verdadeira
Duma caveira para outra caveira,
Do meu sepulcro para o teu sepulcro?!
O amor na Humanidade é uma mentira.
É. E é por isto que na minha lira
De amores fúteis poucas vezes falo.
O amor! Quando virei por fim a amá-lo?!
Quando, se o amor que a Humanidade inspira
É o amor do sibarita e da hetaíra,
De Messalina e de Sardanapalo?
Pois é mister que, para o amor sagrado,
O mundo fique imaterializado
- Alavanca desviada do seu fulcro -
E haja só amizade verdadeira
Duma caveira para outra caveira,
Do meu sepulcro para o teu sepulcro?!