terça-feira, 16 de agosto de 2011

Um pouco de poesia - Augusto dos Anjos


Quando comecei a escrever neste blog uma de minhas intenções era divulgar a literatura em suas várias formas, mas de certa maneira já tinha em mente de dar um certo destaque a literatura brasileira, uma das minhas preferidas, porém tão esquecida e pouco valorizada atualmente pelos seus conterrâneos. Em uma das minhas primeiras postagens coloquei algumas poesias de Carlos Drummond de Andrade, um dos poetas brasileiros mais talentosos e do qual gosto muito. Agora seguindo o plano de divulgar a literatura brasileira, esta na vez de Augusto dos Anjos, poeta extraordinário e cujo dom de poetar não fora reconhecida em vida, mas como muitos outros escritores foi apenas reconhecido em morte. Tendo um estilo único, é considerado um poeta pré-mordenista, porém com fortes influências simbolistas. Dono de personalidade excêntrica e muitas vezes doente, até hoje é conhecido como "O Poeta do Pessimismo", suas poesias chocaram a sociedade de sua época. Confira abaixo "Versos Íntimos", a sua poesia mais conhecida e "Idealismo", a minha favorita. 

Versos Íntimos

Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera!
  O Homem, que, nesta terra miserável,
  Mora, entre feras, sente inevitável
 Necessidade de também ser fera.

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
  O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
  A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
  Apedreja essa mão vil que te afaga,
 Escarra nessa boca que te beija!


Idealismo

Falas de amor, e eu ouço tudo e calo!
O amor na Humanidade é uma mentira.
É. E é por isto que na minha lira
De amores fúteis poucas vezes falo.

O amor! Quando virei por fim a amá-lo?!
Quando, se o amor que a Humanidade inspira
É o amor do sibarita e da hetaíra,
De Messalina e de Sardanapalo?

Pois é mister que, para o amor sagrado,
O mundo fique imaterializado
- Alavanca desviada do seu fulcro -

E haja só amizade verdadeira
Duma caveira para outra caveira,
Do meu sepulcro para o teu sepulcro?!