sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Um pouco de poesia - Manuel Bandeira

Para começar o ano resolvi escrever um pouco sobre Manuel Bandeira, um dos percussores e um dos maiores nomes da poesia modernista brasileira. Nascido em 1886 no Recife e faleceu em 1968 no Rio de Janeiro. Inicialmente teve influências simbolistas e parnasianas, muito marcantes em seu livro de estreia "A Cinza das Horas". Seu segundo livro "Carnaval" trouxe marcas do novo movimento que surgia e que se manteve nos livros seguintes , o Modernismo. Uma de suas maiores características foi o lirismo e era um verdadeiro mestre nos versos livres. Escrevia sobre o amor, a morte e o cotidiano sempre com um tom de melancolia acompanhado de ironia e um toque de angústia e amargura.
Confira duas poesias de Manuel Bandeira:


Poética

Estou farto do lirismo comedido 
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente
protocolo e manifestações de apreço ao Sr. diretor.
Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário
o cunho vernáculo de um vocábulo.
Abaixo os puristas
Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis
Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja 
fora de si mesmo
De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos secretário do amante
exemplar com cem modelos de cartas e as diferentes
maneiras de agradar às mulheres, etc
Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbedos
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare

- Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.


Desencanto

Eu faço versos como quem chora
De desalento , de desencanto
Fecha meu livro se por agora
Não tens motivo algum de pranto

Meu verso é sangue , volúpia ardente
Tristeza esparsa , remorso vão
Dói-me nas veias amargo e quente
Cai gota à gota do coração.

E nesses versos de angústia rouca
Assim dos lábios a vida corre
Deixando um acre sabor na boca

Eu faço versos como quem morre.
Qualquer forma de amor vale a pena!!
Qualquer forma de amor vale amar!




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